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Roteiro

Lisboa

Sintra e Cascais

José Luís Peixoto convidaClaudia Piñeiro

Claudia Piñeiro
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Roteiro

Lisboa

Sintra e Cascais

Por ClaudiaPiñeiro

Claudia Piñeiro

“A memória diante do esquecimento. O sol que se apaga sobre o Tejo banhando de dourado a minha cidade terracota.”

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ConheçaClaudia Piñeiro

Nascida em Buenos Aires, Claudia Piñeiro tem conquistado reconhecimento internacional como escritora, dramaturga, guionista de televisão e colaboradora de meios de comunicação social. A sua carreira tem sido recheada de prémios nacionais e internacionais nos domínios literário, teatral e jornalístico.
A sua mestria literária evidencia-se nos seus aclamados romances, cada um deles um testemunho da sua capacidade narrativa. O livro As Viúvas das Quintas-Feiras, traduzido em Portugal em 2008, foi galardoado com o prestigiado Prémio Clarín de Novela, catapultando-a para o estrelato literário, com aclamação e adoração generalizadas. A sua adaptação cinematográfica consolidou ainda mais o estatuto alcançado de obra clássica. Após este sucesso, Cláudia Piñeiro continuou a cativar o público com obras como Elena Sabe (2007), distinguida com o Prémio LiBeraturpreis em 2010, e Las grietas de Jara (2009), reconhecida com o Prémio Sor Juana Inés de la Cruz no mesmo ano. A sua bibliografia inclui ainda Uma Pequena Sorte, obra editada em Portugal em 2018, que demonstra a sua versatilidade. Para além da escrita de romances, as suas contribuições literárias estendem-se a histórias infantis e a peças de teatro, imbuídas da sua voz e da sua imaginação distintas.
Para além das atividades literárias, Claudia Piñeiro aventurou-se nas plataformas de streaming, nomeadamente co-criando com Marcelo Piñeyro o thriller político El Reino, que estreou na Netflix em agosto de 2021, cativando o público com a sua narrativa envolvente e os seus comentários incisivos.
A sua curiosidade intelectual manifestou-se em encontros com nomes maiores da literatura como o Prémio Nobel José Saramago e na sua participação em festivais literários de renome. No entanto, a sua influência transcende os círculos das letras, uma vez que defende destemidamente as suas convicções, desempenhando assim um papel de observadora consciente e crítica da sociedade.
A marca indelével de Claudia Piñeiro na literatura e no mundo ressoa por toda a parte, inspirando um legado de integridade artística e de consciência social.

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Para ouvir Claudia Piñeiro a ler um excerto sobre Lisboa, Sintra e Cascais, do capítulo “Entre Mondego e Sado, parar em todo o lado” da obra Viagem a Portugal, de José Saramago.

Claudia Piñeiro

Por Saramago

Viagem a Portugal

Entre Mondego e Sado, parar em todo o lado
O paraíso encontrado


«Pela estrada da Ericeira tornou o viajante atrás, e, a norte, enfim, da curva mais extrema da ribeira de Cheleiros, rumou francamente para sul. Estes caminhos são meio loucos, lançam-se em grandes propósitos de servir tudo quanto é por aqui pequena povoação, mas nunca vão pelo mais curto, distraem-se no sobe e desce das colinas, e positivamente perdem a cabeça quando chegam à vista da serra de Sintra. O viajante tem de ir com muita atenção ao mapa para não se desorientar. Bem estaria se fosse a serra o seu objectivo imediato: tão diante dos olhos está que qualquer caminho havia de servir. Porém, há por aqui uma aldeiazita, Janas de seu nome, que tem para mostrar a Ermida de São Mamede, de rara planta circular, e o viajante faz o rodeio necessário, de que não se arrepende.

(...)
Todos os caminhos vão dar a Sintra. O viajante já escolheu o seu. Dará a volta por Azenhas do Mar e Praia das Maçãs, espreitará primeiro as casas que descem a arriba em cascata, depois o areal batido pelas ondas do largo, mas confessa ter olhado tudo isto um pouco desatento, como se sentisse a presença da serra atrás de si e lhe ouvisse perguntar por cima do ombro: «Então, que demora é essa?» Pergunta igual há-de ter feito o outro paraíso quando o Criador andava entretido ajuntar barro para fazer Adão.
Por este lado da serra, começará por encontrar Monserrate. Porém, que Monserrate? O palácio orientalizante, de inspiração mogol, agora meio arruinado, ou o parque que se derrama desde a estrada pelo fundo vale abaixo? A fragilidade do estuque, ou a exuberância das seivas? O viajante toma o que primeiro vem, desce os degraus irregulares que se embrenham na mata, as áleas profundas, e entra no reino do silêncio. É verdade que cantam pássaros, que há rápidos rumores de bichos rastejantes, que uma folha cai ou uma abelha zumbe, mas estes sons são, eles próprios, silêncio. Altíssimas árvores sobem deste e daquele lado da encosta, os fetos têm grossos troncos, e na parte mais funda do vale, onde correm águas, há umas plantas de enormes e espinhosas folhas, debaixo das quais um adulto poderia abrigar-se do sol. Nos pequenos lagos abrem-se nenúfares, e, de vez em quando, um baque surdo na floresta faz sobressaltar o viajante: é uma pinha que, de tão seca, se largou do ramo.
Lá em cima é o palácio. Visto de longe, tem alguma grandeza. Os torreões circulares, de platibanda característica, seduzem os olhos, e a bordadura dos arcos imaterializa-se com a distância. Ao perto, o viajante entristece: este capricho inglês, alimentado com o dinheiro do comércio de panos, e de inspiração vitoriana, mostra a fugacidade dos revivalismos. O palácio está em obras, e ainda bem: ruínas já as temos de sobra. Mas mesmo quando estiver totalmente restaurado, aberto à curiosidade, continuará a ser o que sempre foi: capricho de uma época que tinha todos os gostos porque nenhum gosto tinha definido. Estas arquitecturas oitocentistas são geralmente de importação, eclécticas até ao desvario. A grande penetração económica dos impérios tomava para seu divertimento as alheias culturas. E isto sempre foi, também, o primeiro sinal das decadências.
Da varanda do palácio o viajante olha a massa verde do parque. Que a terra é fértil, já o sabia: conhece bastante de searas e pinhais, de pomares e olivedos, mas que essa fertilidade possa manifestar-se com tanta força serena, como de um ventre inesgotável que se alimenta do que vai criando, isso só aqui estando se sabe. Só pondo a mão neste tronco ou molhando-a na água do tanque, ou afagando a estátua reclinada coberta de musgo, ou, fechados os olhos, ouvindo o murmúrio subterrâneo das raízes. O Sol cobre tudo isto. Um pequeno esforço das árvores levantaria a terra para ele. O viajante sente a vertigem dos grandes ventos cósmicos. E, para se certificar de que não perderá este paraíso, regressa pelo mesmo caminho, conta os fetos e acha mais um, e portanto sai contente porque a terra promete não acabar tão cedo.
A estrada, sinuosa, estreitíssima, vai contornando a serra como um abraço. Abóbadas de verdura protegem-na do Sol, separam o viajante ciosamente da paisagem circundante. Não se reclamem horizontes largos quando o horizonte próximo for uma cortina cintilante de troncos e folhagens, um jogo infinito de verdes e de luz. Seteais aparece insolitamente com o seu grande terreiro relvado, afinal pouco mais do que um miradouro para a planície e um cenográfico ponto de vista para o Palácio da Pena, lá no alto.

(...)
Retoma o viajante o caminho, e são tantas as voltas que tem de dar, tão constante a força da vegetação, tantas as impressões que de tudo colhe, que lhe parece a viagem muito mais longa do que na realidade é. Longa e feliz, raro caso em que podem juntar-se as duas palavras.

Às portas de Lisboa

(...)
Em Cascais foi o viajante ao Museu de Castro Guimarães para ver Lisboa.

(...)
Estas terras marginais são predilectas do turismo. O viajante não é turista, é viajante. Há grande diferença. Viajar é descobrir, o resto é simples encontrar. Por isso se há-de compreender que passe sem particulares demoras por estas amenas praias, e se nas ondas pacatas do Estoril decidir dar breve mergulho, fique este sem menção. É certo que o viajante gosta de parques e jardins, mas esta falda florida que do casino se estende até à praia não está ali para passeios, é como um tapete de palácio, à volta do qual respeitosamente desfilam os visitantes. E quanto às sossegadas ruas que nas íngremes encostas se entretecem, tudo são muros e portões fechados, barreiras e biombos de luxo. (...)

(...)
Provavelmente parecia mal não ir a Queluz. Pois vá e vença a antipatia que sente por dois reis que lá viveram, aquele D. João VI que, falando de si mesmo, dizia: « Sua Majestade tem dor de barriga» , ou « Sua Majestade quer orelha de porco» , e aquela D. Carlota Joaquina, senhora de mau porte, intriguista e ainda por cima feia como noite de trovões. Haviam de ter sua Graça os diálogos destes dois, e hilariantes se pelos caminhos do sentimento entravam. Porém, o viajante é muito discreto sobre as vidas íntimas, e se anda a viajar não é para comportar-se depois como qualquer vulgar bisbilhoteiro: fique lá a rainha com os seus amantes criados do paço e o rei com as suas dificuldades digestivas e vejamos o que este palácio tem para mostrar. É, por fora, uma caserna, e parece um bombom cor-de-rosa se posto o observador no jardim, de Neptuno chamado. Dentro encontra-se a costumada sucessão de salas de aparato e aposentos privados: ele é a sala da música, a do trono, a das merendas, o toucador da rainha, a capela, e mais o quarto deste e daquela, e a cama Império, e a cadeira D. José, e os lustres de Veneza, e a madeira do Brasil, e o mármore da Itália. Arte autêntica, séria, quase a não há; arte decorativa, superficial, só para distrair os olhos, e manter o cérebro ausente, vemo-la por todos os lados. E de tal modo o viajante se vai deixando embalar pela ladainha do guia que abre caminho e algum entendimento ao dócil rebanho cios visitantes de hoje, tão sonâmbulo segue, outra vez sentido assomar na borda do poço o velho rancor, que subitamente é como se acordasse.
Está na sala de D. Quixote, onde se diz que nasceu e morreu D. Pedro IV. Não é este princípio e este fim que comovem o viajante: não faltava mais nada que lacrimejar por coisas tão comuns. O que em verdade o perturba é a incongruência destas cenas da vida do pobre fidalgo manchego, zelador de honra e justiça, louco apaixonado, inventor de gigantes, posto em tal lugar, neste Palácio de Queluz que leu o rocaille à portuguesa e o neoclássico à francesa, e mais errou do que acertou. Há grandes abusos. O desgraçado Quixote, que comia pouco por necessidade e vocação, e de castidades forçadas padecia mais do que a conta, foi à força metido numa corte com uma rainha que não queria saber de continências e um rei que as fazia muitas ao faisão e ao chispe. Se é verdade que nasceu aqui D. Pedro, se nele houve, a par de interesses familiares e dinásticos que convinha assegurar, real amor da liberdade, então D. Quixote de la Mancha fez quanto pôde para vingar-se da afronta de o pintarem nestas paredes. Moído de pancada, soerguendo o tronco nos mortificados braços, quase turvos os olhos do desmaio de que saiu ou em que vai cair, ouve a criança nos seus primeiros gritos e diz-lhe na boa língua cervantina, que o viajante traduz: «Olha lá, pequeno, se aqui me puseram, não me vás envergonhar na vida.» E se é certo ter vindo D. Pedro cá morrer, o mesmo D. Quixote, agora montado no seu cavalo, como quem vai também partir, e levantando o braço à despedida, ter-lhe-á dito no último instante: «Vá lá, não te portaste mal.» De tal boca, e dirigidas a um simples rei, não se poderiam esperar palavras mais confortadoras.

Dizem que coisa boa

(...)
O viajante vem para a rua, é um viajante perdido. Aonde irá? Que lugares irá visitar? Que outros deixará de lado, por sua deliberação ou impossibilidade de ver tudo e falar de tudo? E que é ver tudo? Tão legítimo seria atravessar o jardim e ir ver os barcos no rio como entrar no Mosteiro dos Jerónimos. Ou então, nada disto, ficar apenas sentado no banco ou sobre a relva, a gozar o esplêndido e luminoso Sol. Diz-se que barco parado não faz viagem. Pois não, mas prepara-se para ela. O viajante enche de bom ar o peito, como quem levanta as velas a apanhar o vento do largo, e ruma para os Jerónimos.
Bem fez em ter usado linguagem marinheira. Aqui mesmo à entrada está, à mão esquerda, Vasco da Gama, que descobriu o caminho para chegar à Índia, e, à direita, a jacente estátua de Luís de Camões, que descobriu o caminho para chegar a Portugal. Deste não estão os ossos, nem se sabe onde param; de Vasco da Gama, estarão ou não. Onde parece que há alguns verdadeiros é lá ao fundo, à direita, numa capela do transepto; aí estão (estarão?) os restos de D. Sebastião, outras vezes falado neste relato. E de túmulos não falemos mais: o Mosteiro dos Jerónimos é uma maravilha de arquitectura, não uma necrópole.
Produziram muito os arquitectos do manuelino. Nunca nada mais perfeito que esta abóbada da nave nem tão arrojado como a do transepto. Tantas vezes tem feito profissão de fé numa certa bruteza natural da pedra, e agora vês e rendido diante da decoração finíssima, que parece renda imponderável, dos pilares, incrivelmente delgados para a carga que suportam. E reconhece o golpe de génio que foi deixar em cada pilar uma secção de pedra despida de ornamento: o arquitecto, isto pensa o viajante, quis prestar homenagem à simplicidade primeira do material, e ao mesmo tempo introduziu um elemento que vem perturbar a preguiça do olhar e estimulá-lo.
Porém, onde o viajante entrega as armas, as bagagens e as bandeiras é sob a abóbada do transepto. São vinte e cinco metros de altura, num vão de vinte e nove metros por dezanove. Não há aqui pilar ou coluna que ampare a enorme massa da abóbada, lançada num só voo. Como um enorme casco de barco virado ao contrário, este bojo vertiginoso mostra o cavername, cobre com as suas obras vivas o espanto do viajante, que está vai não vai para ajoelhar ali mesmo e louvar quem tal maravilha concebeu e construiu. Corre outra vez à nave, outra vez o arrebatam os fustes esbeltos dos pilares que no topo recebem ou dele fazem nascer as nervuras da abóbada como palmares. Deambula de um lado para outro, entre turistas que falam metade das línguas do mundo, e entretanto decorre um casamento, diz o padre as palavras costumadas, está toda a gente contente, oxalá sejam felizes e tenham os meninos que quiserem, mas não se esqueçam de os ensinar a gostar destas abóbadas em que os pais mal repararam.
O claustro é belíssimo, porém, não vence o viajante, que em claustros tem ideias muito firmes. Reconhece-lhe a beleza, mas acha-o excessivo de ornamento, sobrecarregado, embora julgue saber encontrar, sob essa capa, a harmonia da estrutura, o equilíbrio das grandes massas, ao mesmo tempo reforçadas e leves. Contudo, não é esta a paixão do viajante. O seu coração está repartido por alguns claustros de que tem falado. Aqui apenas sentiu o prazer dos olhos.
O viajante não falou dos portais, o do sul, que dá para o rio, e o outro, virado a poente, no eixo da igreja. São ambos belos, trabalhados como filigrana, mas sendo embora o primeiro mais aparatoso, porque pôde desenvolver-se a toda a altura da frontaria, vão as preferências para o outro, talvez pelas magníficas estátuas de D. Manuel e D. Maria, obra de Chanterenne, mais provavelmente pela união de elementos decorativos predominantemente góticos e renascentistas, praticamente sem nenhum aproveitamento do vocabulário manuelino. Ou então será outra manifestação do já demonstrado gosto do viajante pelo mais simples e rigoroso. Pode bem ser. Outro terá outro gosto, e ainda bem para ambos.
Colocado agora entre o Museu da Marinha e o Museu dos Coches, entre alguns meios de navegar nas águas e outros de ser transportados em terra, o viajante decide ir à Torre de Belém. Um poeta disse, em hora de rima fácil e desencanto pátrio, que só isto fazemos bem, torres de Belém. O viajante não é da mesma opinião. Viajou bastante para saber que muitas outras coisas fizemos bem feitas, e agora mesmo vem de ver as abóbadas dos Jerónimos. Fez de conta Carlos Queirós que as não viu, ou desforrou-se na torre da dificuldade de encontrar rima coerente para o mosteiro. Em todo o caso não vê o viajante que utilidade militar poderia ter esta obra de joalharia, com o seu maravilhoso varandim virado ao Tejo, lugar de mais excelência para assistir a desfiles náuticos do que para orientar a alça dos canhões. Que conste, nunca a torre entrou em batalha formal. Ainda bem. Imagine-se os destroços que fariam neste rendilhado as bombardas quinhentistas ou as palanquetas. Assim pode o viajante percorrer as sobrepostas salas, ir às altas guaritas, assomar ao balcão do rio e ter muita pena de não poder ver-se a si mesmo assomando em tão formoso lugar, e enfim descer ao mais fundo, onde presos já estiveram. É manha do homem: não pode ver um buraco lôbrego sem pensar em meter nele outro homem.
Não esteve o viajante muito tempo no Museu da Marinha, e ainda menos no dos Coches. Barcos fora de água entristecem-no, carruagens de pompa e circunstância enfadam-no. E vá lá que os barcos, louvados sejam, ainda podem ser levados dali ao rio, ao passo que os coches seriam ridícula coisa de ver, a bambolearem-se grotescos por ruas e auto-estradas, desajeitados cágados que acabariam por perder em caminho as patas e a carcaça.
Por várias razões boas e outra ainda melhor (sacudir do espírito as teias de aranha) o viajante foi ao Museu de Arte Popular. É um refrigério. É também uma e muitas interrogações. Desde logo o viajante tomaria esta colecção e dividi-la-ia em dois ramos, cada um dos quais susceptível de amplos desenvolvimentos: o de Arte Popular propriamente dita e o do Trabalho, o que não significaria organizar dois museus, antes tornar mais visíveis as ligações entre trabalho e arte, mostrar a compatibilização entre o artístico e o útil, entre o objecto e o prazer sensorial. Não que o museu não seja uma extraordinária lição de beleza objectiva, porém padece do pecado original de simples exposição para fins ideológicos nada simples, como foram os que presidiram à sua criação e organização. O viajante gosta de museus, por nada deste mundo votaria a sua extinção em nome de critérios porventura modernos, mas não se resignará nunca ao catálogo neutral que toma o objecto em si, o define e enquadra entre outros objectos, radicalmente cortado o cordão umbilical que os ligava ao seu construtor e ao seu utilizador. Um ex-voto popular exige o respectivo enquadramento social, ético e religioso; um ancinho não é entendível sem o trabalho para que foi feito. Novas morais e novas técnicas vão empurrando todo este material para a arqueologia, e esta é só uma razão mais de novas exigências museológicas.
Falou o viajante de uma e muitas interrogações. Fique esta apenas: vivendo a sociedade portuguesa tão acentuada crise de gosto (particularmente na arquitectura e na escultura, no objecto de uso corrente, no envolvimento urbano), não faria mal nenhum aos árbitros e responsáveis dessa geral corrupção estética, e algum bem faria àqueles poucos ainda capazes de lutarem contra a corrente que nos vai asfixiando, irem passar umas tardes ao Museu de Arte Popular, olhando e reflectindo, procurando entender aquele mundo quase morto e descobrir qual a parte da herança dele que deve ser transmitida ao futuro para garantia da nossa sobrevivência cultural.
O viajante segue ao longo do rio, tão diferente aqui do carreirinho de água de Almourol, mas por sua vez quase um regato comparado com a vastidão que em frente de Sacavém se alonga, e tendo lançado comprazidos olhares à ponte hoje chamada de 25 de Abril (antes teve o nome de um hipócrita que até à última hora fingiu ignorar como se ia denominar a obra), sobe as escadinhas da Rocha do Conde de Óbidos para ir ao Museu de Arte Antiga. Antes de entrar regala-se a contemplar os barcos atracados, a rigorosa confusão dos cascos e dos mastros, das chaminés e dos guindastes, dos paus de carga e das flâmulas, e, sendo noite, voltará para deslumbrar-se com as luzes e tentar adivinhar o significado dos sons metálicos que ecoam bruscamente e se ampliam na ressonância das escuras águas. O viajante gosta dos seus vinte sentidos, e a todos acha poucos, embora seja capaz, por exemplo, e por isso se contenta com os cinco que trouxe ao nascer, de ouvir o que vê, de ver o que ouve, de cheirar o que sente nas pontas dos dedos, e saborear na língua o sal que neste momento exacto está ouvindo e vendo na onda que vem do largo. Do alto da Rocha do Conde de Óbidos o viajante bate palmas à vida.
Para ele, o mais belo quadro do mundo está em Siena, na Itália. É uma pequena paisagem de Ambrogio Lorenzetti, com pouco mais de um palmo na sua maior dimensão. Mas o viajante, nestas coisas, não é exclusivista; sabe muito bem que não faltam por aí outros mais belos quadros do mundo. O Museu de Arte Antiga, por exemplo, tem um: os Painéis de S. Vicente de Fora, e ainda outro: as Tentações de Santo Antão. E talvez o seja também O Martírio de S. Sebastião de Gregório Lopes. Ou o Descimento da Cruz de Bernardo Martorell. Cada visitante tem direito a escolher, a designar o mais belo quadro do mundo, aquele que a uma certa hora, num certo lugar, põe acima de todos os outros. Este museu que deveria ter o bem mais belo nome das Janelas Verdes, que é o da rua onde mora, não goza de fama e proveito de particularmente rico entre os seus pares da Europa. Mas, aproveitado todo ele, daria largo pasto às fomes estéticas da capital e lugares próximos. Sem falar das aventuras para que abriria a parte estrangeira da pinacoteca, contenta-se o viajante, nas salas da pintura portuguesa do século XVI, com delinear, para seu gozo próprio, os caminhos da representação da figura humana ou animal, da paisagem, do objecto, da arquitectura real ou inventada, da flora, natural ou preciosamente alterada, do trajo comum ou de corte, e esse outro que se abandona à fantasia ou copia estrangeiros modelos.
E, voltando atrás, sejam de Nuno Gonçalves ou não, estes painéis soletram feição por feição a portuguesa humanidade que no friso superior de retratos se mostra, tão fortes de expressão que os não pôde apagar a valorização maior das primeiras figuras, reais, fidalgas ou eclesiásticas. Tem sido fácil exercício colocar lado a lado estas imagens e outras de gente hoje viva: por esse país fora não faltam irmãos gémeos destes homens. Porém, apesar desses outros igualmente fáceis exercícios de nacionalismo que derivação, não encontramos em Portugal maneira de tornar evidente, no plano profundo, a semelhança fisionómica. Num qualquer ponto da história o português deixou de reconhecerse no espelho que estes painéis são. Claro que o viajante não está a referir-se às formas de culto aqui expressas nem a projectos de descobrimentos novos que eventualmente os painéis inspirariam. O viajante junta estas pinturas às coisas que viu no Museu de Arte Popular, e assim cuida que fica mais bem explicado o seu pensamento.
Não se descreve o Louvre de Paris, nem a Galeria Nacional de Londres, nem os Ofícios de Florença, nem o Vaticano, nem o Prado de Madrid, nem a Galeria de Dresden. Também não se descreve o Museu das Janelas Verdes. É o que temos, e temo-lo bom. O viajante é habitual visitante, tem o bom costume de visitar uma sala de cada vez, ficar lá uma hora, e depois sair. Recomenda o método. Uma refeição de trinta pratos não alimenta trinta vezes mais do que uma refeição de um prato só; olhar cem quadros pode destruir o proveito e o prazer que um deles daria. Excepto no que toque à organização do espaço, as aritméticas têm pouco que ver com a arte.
Está bom tempo em Lisboa. Por esta rua se desce ao jardim de Santos-o-Velho, onde uma contrafeita estátua de Ramalho Ortigão se apaga entre as verduras. O rio esconde-se por trás duma fiada de barracões, mas adivinha-se. E depois do Cais do Sodré desafoga-se completamente para merecer o Terreiro do Paço. É uma belíssima praça de que nunca soubemos bem o que havíamos de fazer. De repartições e gabinetes de governo já pouco resta, estes casarões pombalinos adaptam-se mal às novas concepções dos paraísos burocráticos. E quanto ao terreiro, ora parque de automóveis, ora deserto lunar, faltam-lhe sombras, resguardos, focos que atraiam o encontro e a conversa. Praça real, ali ao canto foi morto um rei, mas o povo não a tomou para si, excepto em momentos de exaltação política, sempre de curta dura. O Terreiro do Paço continua a ser propriedade do D. José. Um dos mais apagados reis que em Portugal reinaram olha, em estátua, um rio de que nunca deve ter gostado e que é maior do que ele.
O viajante sobe por uma destas ruas comerciais, com lojas em todas as portas, e bancos que lojas são, e vai imaginando que Lisboa haveria neste lugar se não tem vindo o terramoto. Urbanisticamente, que foi que se perdeu? Que foi que se ganhou? Perdeu-se um centro histórico, ganhou-se outro que, por força do tempo passado, histórico se tornaria. Não vale a pena discutir com terramotos nem averiguar que cor tinha a vaca de que foi mungido o leite que se entornou, mas o viajante, em seu pensar vago, considera que a reconstrução pombalina foi um violento corte cultural de que a cidade não se restabeleceu e que tem continuidade na confusa arquitectura que em marés desajustadas se derramou pelo espaço urbano. O viajante não anseia por casas medievais ou ressurgências manuelinas. Verifica que essas e outras ressuscitações só foram e são possíveis graças ao traumatismo violento provocado pelo terramoto. Não caíram apenas casas e igrejas. Quebrou-se uma ligação cultural entre a cidade e o povo dela.
Defende-se o Rossio melhor. Lugar confluente e defluente, não se abre francamente à circulação, mas precisamente é isso que retém os passantes. O viajante compra um cravo nas floristas do lago e, virando costas ao teatro a que se recusa o nome de Almeida Garrett, sobe e desce a Rua da Madalena para ir à Sé. No caminho assustou-se com a ciclópica estátua equestre de D. João I que está na Praça da Figueira, exemplo acabado de um equívoco plástico que só raramente soubemos resolver: há quase sempre cavalo a mais e homem a menos. Machado de Castro explicou lá em baixo, no Terreiro do Paço, como se faz, mas raros o entenderam.
À Sé pouco lhe faltou para não sobreviver às remendagens dos séculos XVII e XVIII, subsequentes ao terramoto umas, sem tento nem gosto todas. Reabilitou-se felizmente a frontaria, agora de bela dignidade no seu estilo militar acastelado. Não é certamente o mais belo templo que em Portugal existe, mas o adjectivo cobre sem nenhum favor o deambulatório e as capelas absidiais, magnífico conjunto para que não se encontra fácil paralelo. Também a capela de Bartolomeu Joanes, em gótico francês, merece atenção. E há que referir o trifório, arcaria tão harmoniosa que se ficam os olhos nela. E se o visitante padece do mal romântico, aí tem o túmulo da Princesa Desconhecida, comovente até à lágrima. Admiráveis são também os túmulos de Lopo Fernandes Pacheco e de sua segunda mulher, Maria Vilalobos.
Até agora não falou o viajante do castelo dito de S. Jorge. Visto cá de baixo a vegetação quase o esconde. Fortaleza de tantas e tão remotas lutas, desde romanos, visigodos e mouros, hoje mais parece um parque. O viajante duvida se o preferiria assim. Tem na memória a grandeza de Marialva e de Monsanto, formidáveis ruínas, e aqui, apesar dos restauros, que num princípio reintegrariam a fortaleza na sua recordação castrense, acaba por ter significado maior o pavão branco que se passeia, o cisne que voga no fosso.
O miradouro faz esquecer o castelo. Nem parece que naquela porta morreu entalado Martim Moniz. É sempre assim: sacrifica-se um homem pelo jardim dos outros.
Nem tem o viajante mostrado grande afeição pela arte setecentista, cujo maior florão é o chamado ciclo joanino, abundante em talha e grande importador de produções italianas, como em Mafra se viu. Logo parece pouco imaginativo, salvo se refinada lisonja for, beneficiar com nomes reais estilos artísticos em que os ditos reis não puseram dedo: têm os britânicos o isabelino ou o vitoriano, temos nós o manuelino e o joanino, só para dar estes exemplos. Mostra isto que os povos, ou quem por eles fala, ainda não se resolveram a passar sem pai e mãe, muito putativos neste caso. Mas, enfim, tinham os reis autoridade e o poder de dispor dos dinheiros populares, e por via desta obsessão de paternidades temos de agradecer a D. João V, contente pelo nascimento do herdeiro, a construção da Igreja do Menino-Deus. Crê-se ser a planta do edifício do arquitecto João Antunes, homem nada peco na sua arte, como se pode concluir olhando este magnífico edifício. Não podia cá faltar o gosto italiano, que em todo o caso não apagou o sabor da terra, patente na feliz introdução dos azulejos. A igreja, com a sua nave octogonal, é de um equilíbrio perfeito. Mas o viajante, quando tiver tempo, há-de averiguar por que se deu a este templo o nada vulgar nome de Menino-Deus: desconfia que andou aqui imposição de Sua majestade, ligando subliminalmente a consagração da igreja ao filho que nascera. D. João V, pela sua conhecida mania das grandezas, era homem para isso.
O viajante ainda não descerá a Alfama. Primeiro tem aqui a Igreja e o Mosteiro de São Vicente de Fora, construídos, é o que diz a tradição, em terras onde acamparam os cruzados alemães e flamengos que deram a D. Afonso Henriques a mão necessária para conquistar Lisboa. Do mosteiro então mandado construir pelo nosso primeiro rei não restam vestígios: o edifício foi arrasado no tempo de Filipe II, e em seu lugar levantado este. É uma imponente máquina arquitectónica, pautada por uma certa frieza de desenho, muito comum no maneirismo. Acusa no entanto uma personalidade clara ainda que discreta na frontaria. O interior é vasto, majestático, rico em mosaicos e mármores, e o altar barroco que D. João V encomendou de grande aparato, com as suas fortíssimas colunas e as grandes imagens de santos. Mas em São Vicente de Fora devem verse sobretudo os painéis de azulejos da portaria, particularmente os que representam a tomada de Lisboa e a tomada de Santarém, convencionais na distribuição das figuras mas cheios de movimento. Outros azulejos, em silhares figurativos, decoram os claustros. O conjunto vem a ser algo frio, conventual naquele sentido que o século XVIII definiu e para sempre a ele ficou ligado. O viajante não recusa méritos a São Vicente de Fora, porém não sente comover-se uma só fibra do corpo e do espírito. Será culpa sua, talvez, ou está comprometido com outras e mais rudes vibrações.
Agora é que o viajante vai a Alfama, disposto a perder-se na segunda esquina e decidido a não perguntar o caminho. É a melhor maneira de conhecer o bairro. Há risco de falhar qualquer dos lugares selectos (a casa da Rua dos Cegos, a casa do Menino de Deus, ou a do Largo Rodrigues de Freitas, a Calçadinha de São Miguel, a Rua da Regueira, o Beco das Cruzes, etc.), mas, andando muito, acabará por lá passar e entretanto ganhou encontrar-se mil e uma vezes com o inesperado.
Alfama é um animal mitológico. Pretexto para sentimentalismos de várias cores, sardinha que muitos têm querido puxar à sua brasa, não barra caminhos a quem lá entra, mas o viajante sente que o acompanham irónicos olhares. Não são os rostos sérios e fechados do Barredo. Alfama está mais habituada à vida cosmopolita, entra no jogo se daí tira alguma vantagem, mas no segredo das suas casas deve rir-se muito de quem a julga conhecer por lá ter ido numa noite de Santo António ou comer arroz, de cabidela. O viajante segue pelos torcidos becos, este em cujas casas de um e outro lado quase os ombros tocam, e lá em cima o céu é uma frincha entre beirais que um palmo mal separa, ou por estes inclinados largos cujos desníveis dois ou três lanços de degraus ajudam a vencer, e vê que não faltam flores nas janelas, gaiolas e canários dentro, mas o mau cheiro dos esgotos que na rua se sente há-de sentir-se ainda mais dentro das casas, algumas onde o sol não entrou nunca, e estas ao nível do chão só têm por janela o postigo aberto na porta. O viajante tem visto muito de mundo e vida, e nunca gostou de achar-se na pele do turista que vai, olha, faz que entende, tira fotografias e regressa à sua terra a dizer que conhece Alfama. Este viajante debe ser honesto. Foi a Alfama, mas não sabe o que Alfama é. Contudo, não pára de dar voltas, de subir e descer, e quando enfim se acha no Largo do Chafariz de Dentro, depois de se ter perdido algumas vezes como decidira, vem-lhe a vontade de penetrar outra vez nas sombrias travessas, nos becos inquietantes, nas escadas de quebra-costas, e ficar por lá enquanto não aprender ao menos as primeiras palavras deste discurso imenso de casas, de pessoas, de histórias, de risos e inevitáveis choros. Animal mitológico por conta alheia, Alfama vive à sua própria e difícil conta. Tem horas de bicho saudável, tem outras em que se deita a um canto para lamber as feridas que séculos de pobreza lhe abriram na carne e este não encontra maneira de curar. E ainda assim estas casas têm telhado. Por esses arrabaldes não se fecharam os olhos do viajante a lugares de habitar que dispensam telhado porque não chegam a ser casas.
Adiante é o Museu Militar com o seu recheio de glórias, bandeiras e canhões. É sítio para ver com muita atenção, com espírito arguto, para procurar e encontrar o civil que em tudo está, no bronze do esmerilho, no aço da baioneta, na seda do estandarte, no pano grosso da farda. O viajante cultiva a original ideia de que todo o civil pode ser militar, mas que já é muito difícil a qualquer militar ser civil. Há desentendimentos que têm precisamente aqui a sua raiz. Daninha raiz, acrescente-se.
Este lado da cidade não tem beleza. O viajante não se refere ao rio, que esse, mesmo desfeado de barracões, sempre encontra um raio de Sol para receber e devolver ao céu, mas sim aos prédios, os antigos que são como muros com janelas, os novos que parecem copiados de sonhos psiquiátricos. Vale ao viajante levar a promessa do Convento da Madre de Deus.
Visto por fora é um enorme paredão com uma porta manuelina ao cimo de meia dúzia de degraus. Convém saber que esta porta é falsa. Trata-se de um curioso caso em que a arte copiou a arte para recuperar a realidade, sem querer saber se fora a realidade que a arte copiada copiara. Parece o enunciado de uma charada ou um trava-línguas, mas é a pura verdade. Quando em 1872 se tentou a reconstituição da fachada manuelina do Convento da Madre de Deus, o arquitecto foi ao Retábulo de Santa Auta que está no Museu de Arte Antiga e copiou, traço por traço, apenas o tornando mais alongado, o portal por onde vai entrando a procissão que transporta o relicário. Achou João Maria Nepomuceno que a ideia era tão boa como a do ovo de Colombo, e talvez fosse. Afinal, para reconstruir Varsóvia devastada pela guerra recorreu-se a pinturas do setecentista veneziano Bernardo Bellotto que naquela cidade estanciou. Foi Nepomuceno precursor, e tolo seria se não aproveitasse a abonação documental que tinha à mão. Mas boa figura de tolos fazemos todos nós, se afinal não era assim o portal da Madre de Deus.
Embora os elementos de decoração que enriquecem tanto a igreja como o coro alto e a sacristia sejam de diferentes épocas (desde o século XVI ao século XVIII), a impressão que se experimenta é de grande unidade de estilos. É provável que essa impressão de unidade provenha, em parte, do esplendor dourado que tudo envolve, mas seria mais exacto admitir que é, preferentemente, obra da alta qualidade artística do conjunto. A generosidade da iluminação, que não deixa adormecido nenhum relevo nem apagado nenhum tom, contribuiu para o sentimento eufórico que o visitante experimenta. O viajante, que tanto tem murmurado contra certos desmandos de talha dourada quando afogam as arquitecturas, descobre-se aqui rendido até ao rocaille da sacristia, sem dúvida um dos mais perfeitos exemplos de certo espírito religioso a que, precisamente, costumamos chamar de sacristia. Por muito que as paredes se revistam de pias imagens, o apelo sensual do mundo carrega as molduras e os retábulos de conchas, feixes de plumas, palmas, volutas entrelaçadas, grinaldas, festões floridos. Para exprimir o divino cobre-se tudo de ouro, mas a vida exterior dilata a decoração até à turgescência.
O coro alto é um escrínio, um relicário. Para exprimir o inexprimível, o entalhador emprega todas as receitas do estilo. O visitante perde-se na profusão das formas, desiste de utilizar analiticamente os olhos e conforma-se com a impressão global, que não é síntese, de um aturdimento dos sentidos. Apetece ao viajante sentar-se no cadeiral para recuperar a sensação simples da madeira lisa, que o trabalho modelador do ebanista não bastou para eliminar.
Nos claustros e em salas que para eles dão, está o Museu do Azulejo. Ao viajante vêm dizer que as peças mostradas são parte ínfima do que se encontra armazenado à espera de espaço e dinheiro. Mesmo assim, este museu é um precioso lugar, aonde o viajante lastima que não venham, ou se vêm não lhes aproveita, aqueles que orientam o gosto de decorar. Há um trabalho a fazer em relação ao azulejo, não de reabilitação, que de tal não precisa ele, mas de entendimento. De entendimento português, acrescente-se. Porque, em verdade, depois de ter sido desprezado durante grande parte deste século, o azulejo regressou em força ao revestimento exterior dos prédios. Para geral desgraça, acrescente-se outra vez. Quem esses azulejos desenha, não sabe o que são azulejos. E, pelos vistos, quem de, responsabilidades didácticas se exorna e argumenta não o sabe também.
O viajante torna sobre os seus passos, encontra no caminho outro chafariz, denominado de El-Rei, cujo não se sabe quem possa ter sido, porque no reinado de D. Afonso II lhe fizeram obras e no de D. João V lhe puseram as nove bicas que hoje tem secas. O mais provável é ter o nome resultado do furor consagratório do Magnânimo. Não resta muito mais da antiga cidade por estas bandas: está aqui a Casa dos Bicos, modesta prima afastada do Palácio dos Diamantes de Ferrara, e além o pórtico da Igreja da Conceição Velha, manuelino belíssimo que o terramoto não derrubou.
Ao longo das arcadas do Terreiro do Paço, pensa o viajante como seria fácil animar estas galerias, organizando em dias certos da semana ou do mês pequenas feiras de venda e troca de selos, por exemplo, ou de moedas, ou exposições de pintura e desenho, ou instalando balcões de floristas, não faltariam outras e melhores ideias, puxando pela cabeça. Talvez, aos poucos, viesse a ser possível povoar este deserto que nem sequer tem dunas de areia para oferecer. Os reconstrutores de Lisboa deixaram-nos esta praça. Ou já sabiam que íamos precisar dela para lhe meter automóveis, ou confiaram ingenuamente na nossa imaginação. Que, como qualquer pessoa pode verificar, é nula. Talvez porque o automóvel veio precisamente ocupar o lugar que à imaginação competia.
O viajante ouviu dizer que há, a meio desta calçada, um museu dito de Arte Contemporânea. Como homem de boa-fé, acreditou no que ouviu, mas, sendo muito respeitador da verdade objectiva, declara que não acredita no que os seus olhos vêem. Não que ao museu falte mérito, e em alguns casos grande, mas a prometida contemporaneidade foi-o, no geral, de outros antigos contemporâneos, não do viajante, que não é tão velho assim. São óptimos os Columbanos, e se outros nomes não se apontam, não é por menosprezo, mas para obliquamente significar que, ou este museu toma caminho de saber o que quer, ou responderá pelo agravamento de algumas confusões estéticas nacionais. Não se refere o viajante a críticos e artistas em geral, que esses obviamente não duvidam do que sabem e são, mas ao público que entra desamparado e sai perdido.
Para descansar e recompor-se do museu, o viajante foi ao Bairro Alto. Quem não tem mais que fazer alimenta rivalidades populares entre este bairro e Alfama. É tempo perdido. Mesmo pecando pelo exagero que sempre contêm as afirmações peremptórias, o viajante dirá que são radicalmente diferentes os dois. Não é o caso de sugerir que é melhor este ou aquele, supondo que viria a concluir-se que significa ser melhor em comparações destas; é sim que Alfama e Bairro Alto são antípodas um do outro, no jeito, na linguagem, no modo de passar na rua ou estar à janela, numa certa altivez que em Alfama há e que o Bairro Alto trocou por desaforo. Com perdão de quem lá viva e de desaforado nada tiver.
A Igreja de São Roque fica perto. Pela cara, não se daria muito por ela. Dentro é um salão sumptuoso onde, na modesta opinião do viajante, há-de ser difícil falar a um deus de pobreza. Veja-se ali a Capela de São João Baptista que o infalível D. João V encomendou em Itália. É uma jóia de jaspe e bronze, de mosaico e mármore, o que há de menos próprio para o furibundo precursor que pregava no deserto, comia gafanhotos e baptizou Cristo com água corrente do rio. Mas, enfim, os tempos passam, os gostos mudam, e D. João V tinha muito dinheiro para gastar, como se conclui da resposta que deu quando lhe foram dizer que um carrilhão para Mafra custava a astronómica quantia de quatrocentos mil réis: «Não julgava que era tão barato; quero dois.» É a Igreja de São Roque um lugar onde se poderá encontrar protector para todas as circunstâncias: pródiga em relíquias, tem as efígies de quase toda a corte celestial nos dois aparatosos relicários que ladeiam a capela-mor. Mas os santos não fitam com olho benevolente o viajante. Talvez no tempo deles estes dizeres fossem tomados como heresias. Muito enganados estão: hoje são maneiras de procurar entender.
Lisboa nunca gostou de ruínas. Ou as emenda com pedras novas, ou as arrasa de vez para construir prédios de rendimento. O Carmo é uma excepção. A igreja, no essencial, está como o terramoto a deixou. Algumas vezes se falou de restaurar e reconstruir. A rainha D. Maria I foi a que mais se adiantou em obra nova, mas, ou porque faltasse o dinheiro, ou porque esmorecesse a vontade, em pouco ficaram os acrescentos. Melhor assim. Mas a igreja, já dedicada por Nuno Álvares Pereira a Nossa Senhora do Vencimento, já passara ou veio a passar por misérias várias depois do terramoto: primeiramente cemitério, depois vazadouro público de lixo e por fim cavalariça da Guarda Municipal. Mesmo tendo sido cavaleiro Nuno Álvares, hão-de ter-lhe estremecido os ossos ao ouvir no além os relinchos e as patadas das bestas. Sem contar com outros desacatos da necessidade.
Enfim, hoje as ruínas são museu arqueológico. Não particularmente rico de abundância, sim em valor histórico e artístico. O viajante admira a pilastra visigótica e o túmulo renascentista de Rui de Meneses, e outras peças de que não irá fazer menção. É um museu que dá gosto por muitas razões, a que o viajante acrescenta outra que muito preza: vê-se a obra trabalhada, o sinal das mãos. Há quem pense como ele, e isso dá-lhe o grande prazer de sentir-se acompanhado: em duas gravuras de 1745, feitas por Guilherme Debrie, vê-se, numa delas, a frontaria do convento, e na outra um alçado lateral, e se em ambas aparece Nuno Álvares Pereira de conversa paçã ou edificante com fidalgos e frades, também lá está o canteiro talhando a pedra, tendo à vista régua e esquadro, que com isso é que os conventos se punham de pé.
Está o viajante a chegar a termo da sua volta por Lisboa. Viu muito, viu quase nada. Quis ver bem, terá visto mal. Este é o risco permanente de qualquer viagem. Sobe a Avenida da Liberdade, que tem um lindo nome, bom para conservar e defender, rodeia o gigantesco plinto que suporta o marquês de Pombal e o leão simbolizador de poder e força, embora não faltem espíritos maliciosos que insinuam demonstrar-se ali um número de domação da fera popular, rendida aos pés do homem forte e rugindo a mandado. O viajante acha agradável o Parque Eduardo VII (aqui está um topónimo que, sem escândalo da Grã-Bretanha, bem podia ser substituído por referência mais chegada ao nosso coração), mas vê-o como o Terreiro do Paço, plaino abandonado que um vento quente escalda. Vai ao Museu Calouste Gulbenkian, que é, sem dúvida, exemplo de museologia ao serviço duma colecção não especializada, que, por isso mesmo, permite uma visão documentada, em nível superior, da evolução da história da arte.
O viajante sairá de Lisboa pela ponte do Tejo. Vai para o Sul. Vê os altos pilares, os arcos gigantescos do Aqueduto das Águas Livres sobre a ribeira de Alcântara, e pensa como têm sido longas e penosas as sedes de Lisboa. Da sede de água a curaram Cláudio Gorgel do Amaral, procurador da cidade, que foi o da iniciativa, e os arquitectos Manuel da Maia e Custódio José Vieira. Provavelmente para acatar o gosto italiano de D. João V, foi primeiro director da obra, ainda que por pouco temo, António Canevari. Porém, em verdade, quem construiu as Águas Livres, e com o seu dinheiro as pagou, foi o povo de Lisboa. Assim o reconhecia a lápide escrita em latim, então colocada no arco da Rua das Amoreiras, e que deste modo rezava: « No ano de 1748, reinando o piedoso, feliz e magnânimo rei D. João V, o Senado e povo de Lisboa, à custa do mesmo povo e com grande satisfação dele, introduziu na cidade as Águas Livres desejadas por espaço de dois séculos, e isto por meio de aturado trabalho de vinte anos a arrasar e perfurar outeiros na extensão de nove mil passos.» Era o mínimo que se podía dizer, e nem o orgulhoso D. João V ousou sonegar a verdade.
Porém, apenas vinte e cinco anos depois, por ordem do marquês de Pombal, foi mandada picar a lápide « em termo que mais se não conheça a existência das ditas inscrições» . E no lugar da verdade foi autoritariamente posto o engano, o logro, o roubo do esforço popular. A nova lápide, que o marquês aprovou, falsificava assim a história: «Regulando D. João V, o melhor dos reis, o bem público de Portugal, foram introduzidas na cidade, por aquedutos solidíssimos que hão-de durar eternamente, e que formam um giro de nove mil passos, águas salubérrimas, fazendo-se esta obra com tolerável despesa pública e sincero aplauso de todos. Ano de 1748.» Falsificou-se tudo, até a data. O viajante está convencido de que foi o peso desta lápide que fez cair Sebastião José de Carvalho e Melo no inferno.»

Notas doViajante

“Viajar é um dos rostos da felicidade, disse Saramago. Viajar por Lisboa é, para além disso, subir ao alto, próximo do céu, muito mais acima do que me permitia a minha ameixeira, para contemplar uma das cidades mais belas do mundo.”

Lisboa, Sintra e Cascais

Lisboa, Sintra e Cascais

“Recordo por cores as cidades onde estive. Há sempre uma cor que se impõe sobre as outras. Na minha recordação, Óbidos é azul, Sintra é dourada, Lisboa, terracota. É que esta cidade, que um dia se chamou Olissipo, tem entre muitos encantos a qualidade de poder ser vista de cima. Talvez para quem ali viva, para quem sobe e desce as suas colinas todos os dias, a pé ou de eléctrico, isto de poder olhar de cima não seja novidade. Acostumamo-nos demasiado depressa à beleza quotidiana, à de cada dia. No entanto, para mim, que vivo numa cidade absolutamente plana como é Buenos Aires, subir por uma colina e olhar sem obstáculos o que se estende a meus pés, é mágico, inesquecível e, na minha recordação, terracota. Porque essa é a cor que lhe imprimem os telhados, um junto ao outro, apenas interrompida pelo verde das árvores, o amarelo de uma parede que se impõem sobre outras paredes brancas, ou o azul celeste do Tejo.
Talvez me sinta tão bem em Lisboa porque o tecto da casa da minha infância era de telha portuguesa; assim chamamos na Argentina à telha curva que num dos lados é plana. Assim a diferenciamos da telha francesa, da espanhola ou da flamenga. Não sei quantas cobriam a minha casa, mas sim que quando um tornado de vento e granizo arrasou a minha aldeia, derrubou centenas de árvores e voou pelos ares o tecto de chapa da minha escola, o meu pai teve de mudar trezentas telhas, um duro golpe no orçamento familiar sempre muito apertado. Burzaco, a aldeia da minha infância, é tão plano como Buenos Aires, de maneira que a única forma de olhar o telhado da minha casa de cima era subindo à ameixeira que estava no pátio e que, ainda que me permitisse uma perspectiva apenas mais alta, me fazia sentir que me aproximava do céu. Quando tive a minha própria casa, sugeriram-me que usasse ardósia, uma telha de cor cinzenta escura e plana que estava na moda na arquitectura desses anos. Mas a beleza que cada um escolhe tem mais relação com a emoção do que com a moda, e a minha infância impôs-se e o telhado da casa onde nasceriam os meus três filhos também foi português.
Segundo alguns guias de viagem, há mais de vinte miradouros em Lisboa. Tinha estado em alguns em visitas anteriores: Miradouro de Santa Luzia e Miradouro de São Pedro de Alcântara. A cidade vista de lugares opostos; de Alfama olhar o Bairro Alto, do Bairro Alto olhar Alfama. E em seguida percorrer ruas de bairros bem diferentes. Não sei se quando escrevia Viagem a Portugal Saramago se terá cruzado pelo Bairro Alto com tantos artistas de rua como os que hoje alegram os viajantes em troca de moedas. Nem se terá imaginado a quantidade de lojas de design que anos depois encheriam as ruas do Bairro Alto até ao Jardim Botânico. Imagino que quando percorreu Alfama, quando andou pelas ruelas que hoje nos conduzem à Fundação que leva o seu nome, quando desceu pelas Escadinhas de São Miguel para chegar ao coração do bairro, se terá encontrado, como eu, com vizinhos que se saúdam ao passar, com roupa estendida na frente das casas procurando o sol, com crianças brincando entre risos e gritos. Mas sem dúvida não terá dado pela presença impertinente de uns compartimentos metálicos com um teclado numérico que hoje interrompem a brancura de muitas das paredes: o lugar previsto para que o dono dessa casa deixe as chaves ao seu inquilino temporário, como combinado por alguma aplicação. Não sei se esses compartimentos de metal têm algum nome específico, mas fizeram-me recordar um parágrafo de Saramago em Viagem a Portugal: «Há uma palavra para designar cada objecto, e o viajante descobre, estupefacto, que a história dos homens é afinal a história desses objectos e das palavras que os nomeiam, e dos nexos existentes entre eles e elas, mais os usos e os desusos, o como, para quê, onde e quem produziu.»
Tal como voltei aos miradouros a partir dos quais descobri pela primeira vez a minha Lisboa terracota, nesta viagem descobri dois que não conhecia: Miradouro da Senhora do Monte e Miradouro da Graça. O da Senhora do Monte é um dos mais altos da cidade; a subida custa, mas uma vez ali chegados não restam dúvidas de que valeu a pena. Ergue-se sobre os restos de uma antiga ermida. Aos viajantes que se atrevem a subir até lá, somam-se vendedoras de artesanato que balbuciam um português recém-aprendido e vendedores de cerâmica. Escolhi um passarinho amarelo que com umas gotas de água e soprando pelas penas da sua cauda emite o seu trino agudo e brilhante. Dali desci para o Miradouro da Graça, talvez o meu preferido para esperar o entardecer contemplando os restos do Convento do Carmo, que não foi reconstruído para que sempre se recorde o terramoto de 1755. A memória diante do esquecimento. O sol que se apaga sobre o Tejo banhando de dourado a minha cidade terracota. Viajar é um dos rostos da felicidade, disse Saramago. Viajar por Lisboa é, para além disso, subir ao alto, próximo do céu, muito mais acima do que me permitia a minha ameixeira, para contemplar uma das cidades mais belas do mundo.”
Claudia Piñeiro

O que visitar

Sugestões paraLisboa, Sintra e Cascais

Na viagem revisitada de José Luís Peixoto, estes foram alguns dos locais destacados pelo seu olhar e pela sua escrita.

Jardins e Palácio de Monserrate

Jardins e Palácio de Monserrate

“Talvez os pássaros lá em cima, a planarem, tenham a perceção mais certa do parque. Ou talvez os pássaros que estão pousados no interior das copas, também eles a contribuírem para o coro que enche a manhã, sejam os que melhor conhecem este lugar raro. A mistura de todas as suas vozes é comparável à abundância de espécies de árvores, assim como ao cruzamento de referências estéticas na arquitetura e na decoração do palácio. Monserrate é uma condensação do mundo, é multiplicidade e unidade.
Os gestos criadores desta paisagem são humanos, mas a exuberância do parque só é possível porque a natureza permite. Entre o oceano e a serra, Sintra possui um clima próprio. Nos mais de trinta hectares do parque, o relevo oferece uma diversidade de exposições ao sol e de níveis de humidade. Por isso, há árvores firmadas nesta terra como se estivessem no México ou no Japão. Espécies que pertenceriam aos antípodas umas das outras, respiram aqui os mesmos ares.
As ideias que deram origem a este parque têm raízes na Inglaterra do século XVIII. Então, o romantismo vivia-se no vigor da sua novidade. Para lá da natureza construída, há outros caprichos que partem desse entendimento, como é o caso das falsas ruínas da capela, hoje ocupadas por uma enorme árvore da borracha. Essas paredes foram construídas já com o propósito de serem ruínas, assim as imaginou Francis Cook, responsável por tanto em Monserrate e, também, por trazer Byron a esta propriedade, que haveria de descrevê-la nos seus versos.”

José Luís Peixoto

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Best ofLisboa, Sintra e Cascais

“Deixe-se envolver pelo encanto das ruas de Lisboa, onde o passado se mistura harmoniosamente com o presente, criando uma atmosfera mágica e acolhedora. Explore os palácios deslumbrantes e os jardins exuberantes de Sintra, onde a natureza se une ao esplendor da arquitetura. E não se esqueça de sentir a brisa marítima e explorar as propostas culturais de Cascais. Prepare-se para uma viagem que despertará os sentidos e deixará memórias eternas na alma.”.
Alfama

Alfama

Este é o bairro mais antigo de Lisboa, que respira tradição, em forma de fado, ginjinha e pregões entre vizinhos. Percorrendo as ruelas labirínticas, adornadas de casas coloridas e de roupas estendidas ao sol, descobre-se o passado da cidade e espreita-se para um futuro que parece pulsar de vida – e de novos negócios locais. Alfama sobreviveu ao Grande Terramoto de 1755 e mantém o seu traçado medieval até aos dias de hoje. A sua tipicidade convida a passear por pátios escondidos, a desfrutar de vistas inspiradoras para o Castelo de São Jorge, situado no topo da colina, e a fazer uma pausa para uma bica de sabor bem português.

Igreja de São Roque

Igreja de São Roque

O esplendor barroco numa obra religiosa situada no coração lisboeta, no Largo Trindade Coelho. O local da sua edificação foi, em pleno século XVI, uma ermida dedicada a São Roque, santo protetor contra a peste. É impossível não atravessar as portadas sem soltar expressões de deslumbramento face ao seu opulento interior, adornado com intrincados entalhes dourados, impressionantes frescos, uma única nave, uma capela-mor e oito capelas laterais. Entre a sua lista de curiosidades estão a coleção de relíquias de origem jesuíta e a Capela de São João Batista, encomendada pelo rei D. João V, que é considerada uma das mais caras do mundo. Após a expulsão da Companhia de Jesus do território português por carta régia, a Igreja de São Roque e todos os seus bens passaram a pertencer à Misericórdia de Lisboa.

Igreja de São Roque
Livraria Bertrand do Chiado

Livraria Bertrand do Chiado

Situada em rua de inspiração literária, a Garrett, a Livraria Bertrand do Chiado é a mais antiga do mundo em funcionamento, segundo o Guinness World Records. Seja a entrada feita pela porta principal ou pelo Café Bertrand, inaugurado em 2017, na Rua da Anchieta, e dedicado a Fernando Pessoa, as sete salas que a compõem aguardam uma visita às estantes de madeira. Aquilino Ribeiro, José Saramago, Eça de Queirós, Almada Negreiros, Alexandre Herculano e Sophia de Mello Breyner dão nome aos corredores e velam extensas coleções de livros, dos clássicos aos bestsellers contemporâneos. Outros vultos das letras, como Bocage ou Alexandre Herculano e Ramalho Ortigão (da Geração 70), foram frequentadores deste espaço, promovendo tertúlias. É de aproveitar também a feira de alfarrabistas que se concentra no exterior.

Livraria Bertrand do Chiado
Livraria Bertrand do Chiado

MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Uma interseção entre arte, arquitetura e tecnologia numa instituição cultural contemporânea que tem como pano de fundo a paisagem do rio Tejo. Do seu catálogo fazem parte inúmeras exposições inovadoras, que apresentam obras de vanguarda de artistas locais e internacionais, e que, muitas vezes, adornam o espaço exterior, como aconteceu recentemente com o trabalho de Joana Vasconcelos. A não perder? O icónico telhado ondulado desenhado por Amanda Levete – com direito a um inesquecível espetáculo do por do sol – e a estrutura inspirada no património marítimo da cidade e na ondulação das águas do rio. Um reto para mergulhar em criatividade, deixando a inspiração surgir a cada nova sala.

MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia
MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Gastronomia

Gastronomia

Deliciar o paladar com a gastronomia de Lisboa e de Sintra é permitir que cada prova conte uma história de tradição e de sabor. Dos icónicos pastéis de nata, de crosta estaladiça, aos travesseiros, recheados com creme de amêndoa, e às queijadas, deliciosas tartes de queijo com um toque de canela, há uma variedade de receitas por descobrir, em espaços como a Casa São Miguel, em Alfama, ou o Café Saudade, na romântica vila de Sintra. Apreciadas pelos habitantes locais e pelos visitantes, estas iguarias celebram a cultura e personificam o património gastronómico nacional, que se quer acompanhado de um café ou de uma ginjinha.

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